Amanhã, dia 17 de agosto, André Malta lança o seu livro Homem cão, com 33 poemas escritos entre 2010 e 2017. O lançamento vai ser no A Produtora (Av. Corifeu de Azevedo Marques, 25) à partir das 18h. Aqui ele responde as cinco perguntas sobre a escrita.
- Como se iniciou a sua relação com a escrita?
Escrevi meus primeiros poemas com 17 anos. Foram poucos, uns dez, até 18, 19 anos, e depois simplesmente parei. Eram desabafos juvenis ou imitações de autores que eu lia. Só voltei a escrever aos 27. Aí já passei a ver minha relação com a poesia de uma forma diferente. Comecei com a coisa da construção objetiva, concretista e joão-cabralina, bem da minha geração, mas depois tudo isso virou um grande impasse, que eu meio que resumi nestes versos do meu primeiro livro: “estes versos/ sem sentir/ têm sentido?”. No Homem cão, o poema para o Augusto de Campos é uma espécie de acerto de contas com essa questão.
- Como, no momento, funciona o ofício da escrita para você?
Nos últimos vinte anos tenho escrito poemas regularmente. Mas é uma atividade paralela, porque sou prosador acadêmico na maior parte do tempo. Ainda que a tradução em verso, ou a chamada tradução literária, esteja integrada ao meu trabalho como helenista, meu cotidiano é basicamente o da escrita analítica, interpretativa. No geral, é um ofício gostoso e conflituoso. Gostoso porque na hora a sensação de fazer é boa. Mas conflituoso porque, no caso da prosa, depois sempre a encaro como um registro em que as palavras sobram. Sei que talvez eles sejam bem superiores à minha poesia, mas reler meus textos é desconfortável, porque acho que está tudo errado, fora do lugar, sem peso. Já na poesia, mesmo reconhecendo a fraqueza de certos poemas, identifico um ajuste, uma organização, acredito que consegui pôr as palavras onde queria, de um jeito permanente. Por isso foi difícil passar para o verso livre: demorei a encontrar o andamento e a densidade que para mim são marcas poéticas, e até hoje a metrificação é um mecanismo de construção que volta e meia uso. Gosto de sentir esse “clique” na poesia, e a prosa não me dá isso.
- Como as suas leituras se concatenam com a sua escrita?
Não se concatenam muito. Raramente ler alguém me dá vontade de escrever. Não existe uma relação direta. Em geral sou mais instigado por outras fontes de informação – uma música, uma entrevista, uma imagem, uma dança. Talvez seja assim também em outras áreas. Dependo muito do que vem de fora de mim para criar, do estranho.
- O que é difícil na escrita? E o que é fácil?
Para mim, pessoalmente, difícil é torná-la algo fácil, fluente, e ao mesmo tempo reverberante. É você criar para si mesmo a convicção do que escreveu, a convicção da escrita – aquele entroncamento impreciso da distância crítica com a satisfação íntima. E fácil é torná-la difícil e impenetrável. Apesar do esforço, ainda é o que mais faço.
- Escrever é, para você, uma necessidade?
Não. É uma escolha.
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André Malta nasceu em São Paulo e passou a maior parte da sua infância no Rio de Janeiro, antes de retornar a São Paulo, onde vive. Formado em Letras, trabalhou como redator no jornal Folha de S.Paulo por quatro anos e depois se tornou professor de língua e literatura grega na USP. Traduziu Homero, Platão e Esopo. Sobre a poesia homérica publicou, mais recentemente, Homero múltiplo: ensaios sobre a épica grega (Edusp, 2012) e A Musa difusa: visões da oralidade nos poemas homéricos (Annablume, 2015).