Diogo da Costa Rufatto nasceu em Passo Fundo/RS e mora em Belo Horizonte. É graduado em letras pela Universidade de Passo Fundo e pós-graduado em Tradução do Inglês pela Universidade Estácio de Sá. Trabalha como tradutor, revisor de textos e intérprete. "Do pó", seu primeiro livro de poesia, vai ser lançado amanhã, dia 26/11/2016, na XIA - feira de publicações Ultra-independentes. que funciona na Benfeitoria (r. sapucaí, 153) de 14h às 19h.
1. Como se iniciou a sua relação com a escrita?
Acho que se iniciou com a leitura. Não sei. Quando me perguntam isso e também quem me iniciou na leitura, não tenho bem certeza. Estou investigando isso literariamente, talvez logo eu possa publicar algo nesse sentido. Desconfio que tenha a ver com um dos meus avôs. Para tornar esta resposta mais interessante, vou contar uma história. Em 2007, meu primeiro ano de graduação, em meados das primeiras férias da faculdade, aconteceu o acidente da TAM em Congonhas. Lembro que estava em casa fazendo não sei o que e ouvi no jornal sobre o acidente. Fique mal, muito mal. Senti uma angústia que não passava, uma dor dilacerante. Aí escrevi um poema. Continuei triste, mas o desespero passou. Também posso falar do romance Orlando, de Virginia Woolf. A memória sempre prega truques na gente, mas me recordo de uma passagem em que Orlando, que gostava muito de ler, naturalmente passa a desejar escrever. Acho que foi isso que aconteceu comigo.
2. Como, no momento, funciona o ofício da escrita para você?
Mais apaziguado. Passei anos da minha vida tentando não escrever. De certa forma, publicar é um fracasso, significa que não consegui me livrar da escrita. Mas é um fracasso que me salva. Cito Hilda Hilst: "E hoje, repetindo Bataille: / 'Sinto-me livre para fracassar'."
3. Como as suas leituras se concatenam com a sua escrita?
Cheguei a um ponto da minha vida em que passei a dizer que se você tem paixão por algo, não faça disso sua profissão; deixe que seja seu hobbie. Acabei transformando meu amor pelas palavras em ofício e ganha-pão. Isso mudou completamente a minha relação com os livros. Estudei Letras, passei a trabalhar como revisor, depois como tradutor e agora sou escritor. Ou seja, tudo o que eu leio não é mais com o mero olhar de leitor, é o revisor, é o tradutor, é o escritor quem lê profissionalmente. Tudo se mistura. Traduzo revelando a voz do outro na minha língua. Escrevo revelando o outro com a minha voz.
4. O que é difícil na escrita? E o que é fácil?
O mais difícil para mim é suportar a escrita. Enfrentar o medo. Fácil é tudo aquilo que vem depois.
5. Escrever é, para você, uma necessidade?
Sim. É imperativo. E num movimento narcísico, cito a mim mesmo numa série de poemas não publicados de título Imperativos: "Porém meu coração, / Selvagem e primitivo, / Dobra-se a um só imperativo: // Amar!"