[Mariana Zande - foto de Bianca de Sá]
1. Como se iniciou a sua relação com a escrita?
Tive uma aula sobre rima na quarta série. A professora explicou o que era e deu o exercício: fazer um poema. Fiz e não parei mais. Escrevi poesia, letra de música, carta, tudo o que me dava na telha. E aos poucos fui me dando conta de que gostava realmente daquilo. Acredito que as coisas que a gente mais gosta fazer são as que fazemos melhor. Minha professora de português da oitava série me disse que eu escrevia bem, que não estudasse Letras (como eu começava a pensar) e sim Jornalismo. No jornalismo eu vi que minha relação com a escrita é outra. Não sou técnica, sou criativa. Funciono sem limites de caracteres, censura ou manual de estilo. E depois de tentar trabalhar com a profissão de formação, vi que não era pra ser nada daquilo. Fui estudar escrita de um jeito mais livre, com cursos, oficinas, leituras. Me descobri escritora e descobri que minha relação mais sincera e produtiva com a escrita é essa que comecei no poema rimado da escola.
2. Como, no momento, funciona o ofício da escrita para você?
Como uma novidade. A escrita permeia todos os meus outros ofícios: sou freelancer como editora de vídeos, arte educadora e produtora cultural executiva. Na minha cabeça, tudo tem relação com contar histórias, como quando escrevo. Mas encarar e, principalmente, assumir que sou escritora, é bem recente. Ainda não tiro da escrita o meu sustento. Nem quero colocar a responsabilidade disso na escrita. Mas consigo vislumbrar como nunca, possibilidades de ganhar algum dinheiro com a escrita criativa, ainda que indiretamente. Em resumo, acho difícil me manter vendendo o que escrevo, mas acho possível ensinar sobre isso, falar dos processos, aprovar alguma verba por meio de mecanismos de incentivo e por aí vai...
3. Como as suas leituras se concatenam com a sua escrita?
Escrevi "Minhas férias" quase todo um dia depois de ler "Histórias reais", da Sophie Calle. Às vezes me sinto meio esponja, fazendo minha versão de quase tudo o que leio. Mas acho que todo mundo é meio assim, só não assume. Escrevi muita poesia quando lia só poesia. Acho que quando leio, alguma coisa se chacoalha no meu subconsciente: absorvo formatos, linguagens, temas... Gosto de ler de tudo porque quero muito ver onde é que vai dar toda essa informação na hora que eu colocar a caneta no papel. Tudo que escrevo é no fim das contas a mistura de tudo que li (e um pouco do que vivo).
4. O que é difícil na escrita? E o que é fácil?
Escrever para mim é só fácil. Tenho que ter outros ofícios que pagem as contas, que às vezes me tomam o tempo e a mente da própria escrita, isso é chato. Mas no momento em que estou com meu caderninho em minha frente, a coisa flui. Entre eu e escrita nada é difícil: as palavras surgem, se organizam, vão me levando. Depois analisar, ver o que fazer com isso e essa coisa toda da mania que a gente tem de dar significado pra tudo, aí fica difícil. Difícil é ser gente grande, ter a vida cheia de coisas e o mundo te deixar com pouco espaço para escrever. Fácil seria escrever sempre que tenho vontade.
5. Escrever é, para você, uma necessidade?
Definitivamente, sim! É quase vital. Se não escrevo num dia parece que faltou alguma coisa. Se são muitos dias sem escrever, começo a entrar em parafuso. Mas se escrevo todos os dias, minha mente sorri. É como se todo dia tivesse alguma coisa pra sair, e se não sai, minha cabeça fica superlotada, os pensamentos se atropelam. Todo pensamento que eu transformo em palavra, se organiza em mim.
Mariana Zande é jornalista não atuante. É mineira, tem 28 anos e vive em Belo Horizonte. Trabalha com projetos culturais, edição de vídeos e produção. Além de escrever em verso e prosa, estuda música e tem um trabalho autoral de composições próprias. Lança hoje (15/07) às 19h30 no Sesc Palladium o seu primeiro livro, Minhas férias, editado pelo Selo Leme.