[Binho Barreto]
Dei aula de desenho durante quase uma década e, com as observações que tive em sala de aula (associadas
a algumas leituras), percebi uma demanda pelo ensino de desenho de forma mais ampla e mais acessível.
Como consequência, criei a oficina “Desenho para não desenhistas”.
O que defendo é que existe uma lacuna na educação “formal” (fora das escolas de arte e afins) quanto ao ensino do desenho. Ele é importante como expressão artística, mas também como uma forma de organizar ideias e se comunicar visualmente/espacialmente. Deveria ser uma habilidade desenvolvida para o uso cotidiano, como a língua portuguesa e a matemática: todos têm direito e conseguem. A diferença é que no processo de aprendizado existe uma cobrança e um mito sobre o desenho que geram bloqueios. Ninguém compara quem aprende matemática para o uso cotidiano com um Albert Einstein ou alguém que aprende língua portuguesa com um Machado de Assis. No entanto,
todos que passam pela escola aprendem a usar essas duas habilidades cotidianamente. Com o desenho o processo tem sido diferente, ele acabou sendo entendido como algo acessível só para quem tem algum tipo de “talento especial”. Eu discordo disso, ele é uma habilidade é importante para todos. Alguns vão optar por aprofundar e viver profissionalmente do desenho, mas todos podem desenvolver e usá-lo no dia a dia para os fins que acharem mais
necessários.
Quando vemos um desenho pronto e finalizado, ele parece algo mágico – mas é só entender as etapas
para desmistificar. E essa desmistificação favorece também a apreciação (até em outras vertentes expressivas
em que o traço não esteja nitidamente presente). É tipo abrir a caixa preta e, consequentemente, descobrir
o prazer da prática e da apreciação.
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Texto publicado origialmente no livro Perímetro Urbano de Binho Barreto, Selo Leme, 2017.
O autor está oferecendo a oficina Desenho para não desenhistas aqui no Estratégias narrativas! Começa na quinta-feira dia 10/08. Para saber mais ou se inscrever, clique aqui!
Binho Barreto trabalha em diversas áreas que têm o desenho como interseção. É ilustrador, professor e, desde 1995, atua cotidianamente com o graffiti. Participa de projetos interdisciplinares e desenvolve pesquisas com fotografia e processos gráficos. Mais recentemente vem se aproximando da escrita, na busca por interfaces entre palavra e imagem. É formado em Artes Plásticas pela Escola Guignard/UEMG, com mestrado em Arquitetura e Urbanismo pela UFMG. Nasceu em Belo Horizonte e, após temporadas em São Paulo e em Nova York, voltou a residir na capital mineira. Participou das residências artísticas Repia (em BH), RAM5 (na cidade de Altamira em Minas) e Agora Art Action (em Bela Crkva, na Sérvia). Já expôs em mostras individuais e coletivas no Brasil e no exterior. Lançou o livro Perímetro Urbano (Leme, 2017), com textos, fotos e desenhos. [Foto: Fernando Biagioni]